Escola púbica: preconceito não é prevenção!

Escola púbica: preconceito não é prevenção!

O relato de uma mãe que sofreu preconceito dentro da escola pública ao tentar realizar a matrícula para um de seus filhos.

Por Por Nai Fachini em 21/02/2021

Preconceito não é o mesmo que prevenção nem aqui, nem na China. Hoje me deparei com uma situação um tanto quanto constrangedora e, ao mesmo tempo, revoltante.

O caso relatado é real e envolve preconceito na escola pública.

“Vou te denunciar às unidades de saúde!”

Estava muito feliz, porque pela primeira vez, consegui uma vaga na escola pública para um de meus filhos.

Eu estudei a vida toda em escola pública (exceto o terceiro grau), e lembro com carinho o que vivi naquele período. É claro que eram outros tempos, mas vamos lá.

Fui até a escola, com a documentação em ordem, conforme a orientação da diretora da unidade.

Entreguei os documentos para fazer as devidas cópias, fiz a tão famosa anamnese da criança e informei:

“Esta criança não vem para a escola nesta semana. Fizemos uma tele consulta, foi identificada virose pelos sintomas de vômito (apenas um episódio) e febre (apenas um episódio). Então vamos seguir a orientação médica de não a enviar para escola por estes dias”.

Foi então que a diretora da escola, que até então não tinha falado comigo nem me cumprimentado, se aproximou e iniciou uma série de perguntas.

E entre tantos questionamentos, ela afirmou que coronavírus também é uma virose e, por esse motivo, eu não deveria ter ido até a escola.

Me senti num tribunal inquisitório. E pasmem, as ameaças começaram.

Ameaças? Sim, isso mesmo! A diretora da escola foi logo tratando de me dizer que só não iria informar a unidade de saúde do bairro porque a criança nunca foi para escola.

E não é por menos, eu estava justamente fazendo sua matrícula na rede pública, a qual todos temos direito, e ao mesmo tempo, justificando sua ausência, por respeito, consideração e até mesmo gratidão.

Pois bem, como a minha mãe bem me ensinou, agradeci e sai da escola.

Antes mesmo de cruzar o portão de saída, lembrei que não havia pago pelas cópias dos documentos necessários para a matrícula.

O retorno e a cena de preconceito na escola pública

Foi então que voltei.

E pasmem… Eu era o assunto da conversa entre direção e auxiliares.

Ao adentrar pela porta, lembrei a secretária que não havia pago. E perguntei quanto devia pelas cópias. Me desculpei pelo esquecimento.

Peguei a moeda na carteira, passei no álcool, como costumeiramente faço quando preciso pagar algo em moeda ou espécie, e entreguei para a secretária, que ao levantar sua cabeça demonstrou todo seu constrangimento diante da situação.

Minha alegria, euforia e esperança depositadas no ingresso a escola pública recebeu um balde de água fria.

Afinal de contas, a escola que deveria acolher estava justamente fazendo o contrário: me excluindo!

Além disso, estavam questionando a autoridade médica. Não hesito em afirmar, que a diretora do Centro de Educação Infantil e sua equipe técnica criaram pré-conceitos sem fundamentos sobre a minha família e a sobre a nossa responsabilidade.

Ouvimos tanto falar em preconceito racial, mas o preconceito extrapola o limite de raça ou de credo. Sempre pensamos que isso está longe da gente.

E é o contrário. O preconceito está muito mais perto do que, literalmente, se pode imaginar.

O preconceito passou a ser social. O que me conforta é que o ódio e repulsa que caracterizam esse tipo de atitude dizem mais sobre quem prática do que sobre as vítimas do preconceito.

O que mais me assusta é a capacidade que o poder público tem que indicar pessoas com esse caráter ou essa característica para a direção de escolas.

Opa, voltando ao assunto escola, elas não deveriam dar o exemplo?

Educação vem de casa, mas socialização vem da escola.

E em tempos de coronavírus, que tanto se fala sobre prevenção, só tenho uma coisa a dizer: PRECONCEITO não é PREVENÇÃO em lugar algum, muito menos na escola pública!

Fiquem atentos.


Foto: Mike Fox.