Sobre George Floyd, estátuas, história e preconceitos

Sobre George Floyd, estátuas, história e preconceitos

A morte de George Floyd, homem negro, sob o joelho de um policial branco criou uma onda, legítima, de protestos e discussões sobre o racismo. Estatuas de Edward Colston, na Inglaterra, Leopoldo II, na Bélgica e Robert E. Lee, nos Estados Unidos, já foram removidas.

Por Fábio Gregório em 07/07/2020

A morte de George Floyd, homem negro, sob o joelho de um policial branco em 25 de maio de 2020 criou uma onda, legítima, de protestos e discussões sobre o racismo nos EUA.

Movimentos como All Lives Matter, Black Lives Matter nos lembram que SIM: todas vidas importam, não importando sua cor: todo e qualquer tipo de abuso ou excesso deve ser desencorajado, contido e combatido.

A discussão foi tomando corpo e se tornou mundial, com protestos em diversas cidades, muitas delas com tensão e confronto com as forças policiais.

Estátuas removidas

Os alvos agora eram estátuas de pessoas que, por sua história, tiveram envolvimento com tráfico de escravos.

Estátuas de Edward Colston, na Inglaterra, Leopoldo II, na Bélgica e Robert E. Lee, nos Estados Unidos, já foram removidas. Em São Paulo há um movimento para remoção da estátua do Borba Gato conhecido Bandeirante Paulista.

“Pensar o passado para compreender o presente e idealizar o futuro.
Heródoto

Em o “Guia Politicamente Incorreto do Brasil”, de 2009, Leandro Narloch afirma que nos quilombos havia escravidão e que inclusive Zumbi dos Palmares – que era um título e não uma pessoa – possuiu escravos pois, vivendo na sociedade escravocrata da época, seria improvável defender os valores de liberdade e igualdade que conhecemos hoje.

Estátuas são obras de arte sejam ao ar livre ou em museus tem, entre outras, a função do estímulo da consciência e pensamento do público.

Hernán Cortés

Hernán Cortés, conquistador espanhol, conhecido por ter destruído o Império Asteca de Moctezuma II, tem estátuas na Espanha, Colômbia e México: os seus atos, totalmente abomináveis no dia de hoje, estão diretamente ligados a história daquele local e país. Houve uma Era dos Descobrimentos, conquistas e, sim, escravidão.

A morte de George Floyd, homem negro, sob o joelho de um policial branco criou uma onda, legítima, de protestos e discussões sobre o racismo.

Ainda falando em escravidão, a mais antiga e conhecida que se tem registro foi do povo hebreu ante os egípcios, que tem a pele mais escura do que a dos hebreus antepassados dos judeus.

Se assim, o negro escravizava o branco? Vamos culpar os egípcios pelo início de tudo? Não, provavelmente eles não foram os primeiros a realizá-lo. Os modelos foram replicados ao longo dos séculos até a Era dos Descobrimentos de onde possuímos mais informações registradas.

Hoje é inconcebível fumar em um mercado, cinema ou restaurante. Antes da Lei de 2011, não. O fato é que atos reprováveis do passado, hoje podem ser por nós considerados inconcebíveis, mas não podemos desprezar a história!

Museus

Há, embaixo das novas torres do World Trade Center em Nova York, um memorial e museu. O campo de concentração da Segunda Guerra em Auschwitz, na Polônia, foi transformado em um museu estatal. Em Kiev há o Museu Nacional de Chernobyl.

“Esses três exemplos não são um incentivo ao terrorismo, ao nazismo ou a um acidente nuclear e sim uma reflexão do passado para não cometermos o mesmo erro no futuro.”

Esses três exemplos não são um incentivo ao terrorismo, ao nazismo ou a um acidente nuclear e sim uma reflexão do passado para não cometermos o mesmo erro no futuro.

Edward Colston

Edward Colston foi comerciante de escravos, mas também um filantropo: apoiou e doou escolas, hospitais e igrejas em Bristol.

Fundou o Hospital-Escola Rainha Elizabeth e ajudou a fundar o Hospital de Colston, um internato aberto em 1710, deixando uma doação a ser administrada pela Society of Merchant Venturers. Estima-se que tenha doado 70.000 Libras esterlinas, algo próximo de 46 milhões de Reais em valores atualizados. 

Se não fosse o Sir Edward a comerciar escravos, seria outra pessoa: talvez eu ou você se tivéssemos vivido nesta mesma época. Não aqui justificando: mas mostrando outro olhar para o tema.

Tão certo como quem assistiu Rede Manchete e colocou palha de aço na antena: cada coisa tem seu tempo, as coisas mudam e o que fica é a história.

O mundo tem histórias boas e ruins na caminhada da humanidade: todas devem ser contadas e não suprimidas.

*Fábio Gregório é professor e empreendedor.


Foto: Ehimetalor Akhere Unuabona.