Como o ensino técnico tem acompanhado as transformações que o país passou nos últimos 50 anos.
Há 50 anos o Brasil atraia inúmeros investimentos industriais a se instalarem no país e com isso trouxeram crescimento industrial, com empresas de todo o mundo desenvolvido se instalando para gerarem conteúdo local e, somente assim, poderem participar do mercado crescente e promissor.
Com isso surge a demanda pelo ensino técnico de segundo grau de qualidade para suprir estas demandas de capacitação, para atuarem em toda esta industrialização. Esse movimento começou no ABC, em São Paulo, e outras capitais com indústrias de base e de produção de bens de consumo e de capitais.
De lá para cá, frente a inúmeras crises, e uma vertiginosa ultrapassagem da China nesta competência de industrialização, o mercado se globalizou e trouxe uma pressão muito grande para quem havia se instalado no Brasil. As Indústrias de bens de capital foram as que mais sentiram e praticamente deixaram o país, com poucos exemplos de competência como a Romi, por exemplo, que está aqui no interior e é um exemplo a ser seguido, além de outras empresas como Singer, Brastemp, entre várias, de bens de consumo duráveis fora da área automotiva. Esta sim é a responsável por aproximadamente 20% do PIB industrial do Brasil e, com isso, é direcionadora das demandas da indústria e traz o desenvolvimento deste segmento e das demais áreas industriais.
Reabertura econômica
Porém há aproximadamente 25 anos, após a abertura de mercado, feita pelo Collor, houve uma revolução da demanda por competência local para transformação de empresas, que até então eram focadas apenas em nacionalização de peças para as chamadas “carroças” produzidas pela indústria automotiva até então, em empresas para atenderem as demandas de um novo mercado mais exigente, que estava buscando por soluções em todo o mundo.
Muitos técnicos foram substituídos por engenheiros e os técnicos foram para áreas como desenho em CAD, projetos, manutenção, laboratórios e áreas terceirizadas, tornando as especializações mais curtas e de menor amplitude de conhecimento. O ensino técnico se transformou em seguida, no início dos anos 2000, para se tornar modular, formando competências complementares de forma mais rápida e menos integrada.
Muitas crises se passaram, muitas demandas por especializações se tornaram necessárias para se trabalhar nas linhas de produção cada vez mais automatizadas, com processos mais exigentes em qualidade e custos, em que toda a tecnologia demandada para se operar neste sistema já requeria dos operadores de linhas de produção o conhecimento mínimo de um técnico para poder atuar de forma plena nestas novas exigências. Surgem inúmeras demandas por técnicos com conhecimento em mecânica, eletrônica e computação, quer seja na operação, no projeto, bem como na manutenção.
Com o advento do crescimento da digitalização em todos os segmentos e pelo fato de estarmos vivendo uma fase de transformação das indústrias no país – em que as indústrias em geral já estão nos centros desenvolvidos há décadas – estas estão precisando aprender como usufruir das novas tecnologias digitais ao longo de toda a cadeia de agregação de valor.
O técnico 4.0
Atualmente, as escolas técnicas deveriam apoiar os empresários locais, formando técnicos que já tenham em sua bagagem a prática em atividades que envolvam as ferramentas digitais na sua forma mais nova, desafiando os alunos dos cursos técnicos com as ferramentas que hoje se ensinam só na faculdade como Matlab para resolver os problemas técnicos, algoritmos de inteligência artificial, para equacionar problemas mais complexos, compreendendo como estas ferramentas podem revolucionar cada uma das disciplinas que estão arraigadas há décadas nas escolas técnicas e nas indústrias.
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Nossos alunos precisam aprender a serem empreendedores, a serem digitais e a extrapolarem as fronteiras do país, desde a sua adolescência, momento em que se concretizam ideais de uma carreira.
Os alunos precisam dominar as ferramentas digitais da Amazon AWS, da Microsoft Azure, bem como operar em nuvens e integrar máquinas a cada dia mais inteligentes.
Os nossos professores precisam viver este dilema e entenderem o que esta transformação pode agregar para a vida dos alunos e para o mercado em que eles irão atuar.
O entendimento do nosso papel de transformação desta juventude em protagonista das nossas empresas de produtos ou serviços locais será fundamental para revertermos a geração do chamado “nem nem”, que entende que tudo já está pronto e só precisa esperar que as coisas vão acontecer.
Agora é hora de formarmos a geração conectada, empreendedora e motivada que irá transformar o nosso país, usando seus conhecimentos para desenvolver soluções sustentáveis com tecnologias atuais, e isso começa com um bom técnico apoiando os estrategistas a tomarem as decisões mais acertadas e a garantirem seu crescimento sustentável.
*Erwin Franieck, 58 anos, é engenheiro e diretor de P&D na área da mobilidade.
Foto: Mika Baumeister.