Daniel Tausk, professor de matemática da USP, defendeu o site c19study. A polêmica está no fato de que o site dá embasamento ao tratamento precoce.
O c19study foi criado por cientistas que preferiram trabalhar de modo anônimo. Essa decisão foi tomada depois que Didier Raoult, o cientista francês que propôs o tratamento da Covid-19 com hidroxicloroquina e azitromicina, passou a sofrer ameaças de morte.
O site se propõe a catalogar todos os estudos de tratamentos para a doença causada pela pandemia. Eles possuem seções inteiras sobre a hidroxicloroquina, ivermectina, vitamina D, Vitamina C, bromexina, fluvoxamina, entre outros. No dia 5 de abril de 2021 a soma era de 538 estudos.
Entre os medicamentos com mais artigos estão a hidroxicloroquina, com 277, a Ivermectina com 49 e a vitamina D, com 65.
Como a “treta” começou
Um professor de física da Unicamp, Leandro Tessler, criticou o c19study dizendo que uma medida estatística importante (p-valor) não era confiável.
P-valor é um termo da estatística que define o quanto do resultado apresentado, como a eficácia de um fármaco, pode ser fruto do acaso. No caso do c19study, os cálculos de p-valor representam valores bastante baixos, indicando que os efeitos, como reduções de mortalidade, vem realmente dos medicamentos.
Entretando, Tessler afirmou o seguinte: “Eles simplesmente multiplicam os diferentes p-valores, obtendo valor de p-valor muito baixo”.
Para o físico, era um grande mistério de onde surgiu o cálculo. Ele desafiou que lhe explicassem isso.

Professor de matemática da USP defende a validade do c19study
Daniel Tausk, professor de matemática da USP, explicou: “Eles contaram 172 estudos positivos em 219. Fazendo o teste de sinal, o p-valor unicaudal é a probabilidade de ter ao menos 172 caras em 219 lançamentos de uma moeda honesta. Fazendo no R, o p-valor é 1 em 327 quadrilhões, como eles dizem”.
Tausk enviou esta imagem para explicar a matemática da meta-análise.

“Agora, se é razoável contar que são 172 estudos positivos em 219 é outra história. É um trabalho monumental que eles fizeram, mas essa parte da conta é trivial e tá certa”.
Tausk, que tem se aprofundado nos estudos randomizados de diversos tratamentos e recentemente deu um aula para o Ciclo de Palestras de Chapecó, onde explicou, junto com Flavio Abdenur, outro doutor em matemática, as meta-análises de tratamentos, como a do professor Harvey Risch, de Yale, manteve o foco na questão principal, a origem do cálculo do p-valor, entendido como “misterioso” pelo físico da Unicamp, não em todos os aspectos meta-análise.
“Enfim, como a meta-análise deles é um trabalho hercúleo, é muito difícil conferir (todos os detalhes). Agora, 100% mentira que esses p-valores baixos estão saindo de multiplicação de p-valores”.
Leia também
“Acho ótimo que pessoas se disponham a corrigir problemas nesse site, mas é fundamental que os problemas apontados sejam os problemas reais e não problemas imaginários”, complementou Tausk em um post completo em seu facebook, inclusive com a explicação técnica para quem é da área.
A resposta estava no próprio site
Detalhe: está logo no segundo parágrafo da introdução a explicação de como o p-valor foi calculado, citando o teste pelo nome, inclusive.

Tessler assumiu que não leu o estudo que se propôs a “destruir” em nome da Unicamp e divulgou informação falsa ao dizer que os valores de p da meta-análise eram multiplicados.
Em defesa do c19study
O professor de medicina Peter McCullough, da Universidade de Baylor, uma das mais conceituadas dos EUA, ao conceder uma entrevista para a SkyNews da Austrália, repetiu o número de valor p da meta-análise, com os valores apresentados na época da entrevista: “Apenas uma em 17 bilhões a chance da hidroxycloroquina não estar funcionando”.
Cada novo estudo que entra na análise, o valor muda, para mais ou para menos. Hoje, 4 de abril, o estudo indica o seguinte: “HCQ é eficaz para Covid-19. A probabilidade de um tratamento ineficaz gerar resultados tão positivos quanto os 231 estudos até o momento é estimada em 1 em 3 quatrilhões”.
O professor McCullough é um cientista de altíssimo nível. Ele possui um índice-H, referência da produção científica, de 113, uma classificação altíssima. O professor Peter é editor de duas grandes revistas em seu campo de atuação na medicina. Ele é um dos cientistas mais publicados no mundo quando se refere a coração e rins.
Outro cientista de alto nível que já usou os dados do c19study em suas apresentações é o professor Didier Raoult, diretor do IHU — Mediteranée Infection, um dos centros científicos mais produtivos de toda a Europa. Raoul, cientista premiado com as mais altas distinções francesas, possui um impressionante número de 195 068 citações em artigos científicos.
Para mais detalhes, clique aqui.
Foto: reprodução/Facebook.