Pequenos negócios na pandemia: Educação Digital salva?

Pequenos negócios na pandemia: Educação Digital salva?

Em artigo, Wilson Santana defende a revisão do planejamento educacional no Brasil

Por Wilson Santana em 26/05/2020

Seu João, 65 anos, tem uma peixaria na feira livre. Durante a quarentena pela Covid-19, aumentou seu faturamento em 35%. José, mesma idade, dono de um pequeno restaurante de comida caseira na vizinhança, precisou fechar as portas em contrapartida. Como isso é possível?

A diferença entre eles é consequência dos valores pessoais e da influência do Estado na economia. Seu João trabalhou a vida inteira para que os filhos estudassem nas melhores escolas e escolhessem o que queriam fazer no futuro. Já José não achava estudo assim tão importante, desde que os filhos conseguissem administrar o pequeno negócio.

Como resultado, no fechamento do comércio, os filhos de Seu João imediatamente trataram de colocar os produtos do pai em plataformas digitais online de entrega de produtos perecíveis. Mais que isso: investiram pesadamente em redes sociais, criaram uma pequena rede de distribuição, e estão desenvolvendo seu próprio aplicativo, o peixãodojoão.com.

Já José e seus filhos resolveram apostar em vender suas refeições prontas, divulgar com panfletos e entregar pessoalmente, de bicicleta ou moto, nas redondezas. Como os custos fixos se mantiveram e o faturamento não pois as vendas foram muito aquém do esperado, o restaurante precisou fechar as portas com seis funcionários desempregados.

Notemos que a grande diferença entre Seu João e José se deu pela capacidade de inovação de seus modelos de negócios, e a visão de que crises não são desastres, mas oportunidades. Mérito de seu João? Sim, porém o Estado também tem sua grande parcela de culpa.

Seu João investiu pesado em educação primária privada para os filhos. Nesta eles aprendiam computação e empreendedorismo desde a mais tenra idade. Desenvolvendo paixão pelos assuntos, os levaram para a faculdade. Na hora da crise, estavam prontos.

José achava que não era necessário faculdade para os filhos. Bastava a escola pública, em greve constante, conteúdos engessados, preocupação com doutrinação ideológica acima do ensino em si. No fim, a consciência de classe do proletariado não impediu seis famílias de perderem seu ganha pão.

“O Brasil necessita rever o planejamento educacional. Empreendedorismo e Computação devem ser parte de grade curricular. Educação digital deve ser expandida.”

O Brasil necessita, com urgência, rever seu planejamento educacional. Empreendedorismo e Computação devem ser parte de grade curricular oficial. A população precisa estar pronta para inovar a cada instante, vendo a si mesmos e onde trabalham como startups em constante processo de crescimento.

Além disso, há que se ter incentivo pesado para empresas que atuam em inovação digital e educação, algo engessado pela atual política educacional, trabalhista e tributária. Mesmo com toda a capacidade de Seu João e filhos, o peixãodojoão.com pode não sair pelos imensos percalços para regularizar e implantar a cadeia logística, presa na rede do Estado.

Quantos Joões e Josés conhecemos nas situações acima, baseadas em casos reais, que poderiam ter sido salvos por uma palavra tão simples, porém tão poderosa – Educação.

*Wilson Santana é engenheiro eletricista , especialista em telecomunicações pela Unicamp com MBA pela FGV e especialista em Cloud Computing pela AWS. Trabalha como Technical Training Instructor na Amazon Web Services no Reino Unido para Europa, Oriente Médio e África. Em seu trabalho, já capacitou mais de 6000 clientes internos e externos em mais de 400 cidades em 4 continentes. Até hoje tem voltado vivo para contar sua história.


Foto: divulgação.