Paulo Batista: uma aula de economia ministrada pelo professor “Lápis”

Paulo Batista: uma aula de economia ministrada pelo professor “Lápis”

Como um objeto tão simples como um lápis pode apresentar tamanha funcionalidade em nossas vidas. E explicar tão bem como funciona a economia.

Por Paulo Batista em 22/09/2020

O simples lápis de grafite passou por um quase milagroso processo de criação para ser como é. Nem todas as pessoas sabem como é fazer um lápis. Não tenho dúvidas de que se isso pudesse ser demonstrado, retrataria fielmente o milagre que é o livre mercado.

Isso porque todos os objetos que usamos no dia-a-dia passam por um processo de criação, que envolve basicamente inspiração e criatividade. Além disso, quantas lições de economia poderiam ser tiradas do processo produtivo do lápis?

Pois bem… vamos lá. Você sabe como funciona a cadeia produtiva de um simples lápis? Então a partir deste momento, imagine o lápis como o narrador.

Deixe que eu me apresente: sou um simples lápis de grafite, desses de madeira que as crianças utilizam para aprender a escrever. Essa é a minha missão, a minha vocação e a minha profissão.

“Nossa decadência vem da falta de maravilhamento, não da falta de maravilhas.”

G. K. Chesterton:

Um erro bastante comum e lamentável da humanidade, como disse G. K. Chesterton: “nossa decadência vem da falta de maravilhamento, não da falta de maravilhas.”

Eu sou uma maravilha e tenho uma lição a ensinar. Sou muito simples, e mesmo assim, não há uma única pessoa na Terra que consiga me produzir sozinha. Isso é fantástico, não?

Apenas nos Estados Unidos, são produzidos mais de um bilhão e meio de lápis a cada ano. Sou simples demais, feito de madeira, verniz, tenho a marca impressa, ponta de grafite, um pouco de metal e uma borracha.
Um ser humano pode ser “rastreado” pelo passado de sua árvore genealógica. Um lápis, nem tanto.

DNA do lápis

A história começa na árvore. Em maioria, um cedro que brotou da semente e cresceu no nordeste da Califórnia e no estado do Oregon.

Agora imagine todo o sistema envolvido nisso: serras, caminhões, cordas e inúmeros instrumentos utilizados para manter a floresta plantada, e depois para a colheita. Vamos pensar nas pessoas e na capacidade de fabricação do lápis: a escavação de minerais, a fabricação do aço, seu refinamento em serras, machados e motores.

As árvores passam por vários estágios até estarem prontas para o corte. Agora pense nos campos de extração da madeira, com camas e refeitórios, cozinha, lenhadores etc.

Os troncos cortados seguem para uma serraria em San Leandro, Califórnia. E eu lhe pergunto: você consegue imaginar todos os indivíduos envolvidos neste processo? Estou me referindo a aqueles que criaram os trilhos, as locomotivas, os vagões. Aqueles que criaram e instalaram os sistemas de comunicação para que tudo isso funcionasse.

Imagine a serraria em San Leandro, onde os troncos de cedro são cortados em tiras de sete milímetros de espessura, do comprimento de um lápis. Para serem coloridas, elas são queimadas em um forno. Consegue visualizar isso? Depois do forno, recebo uma espécie de maquiagem. Sou encerado e levado novamente ao forno.

Agora pense nos processos e nas pessoas envolvidas nisso: a fabricação da tintura (maquiagem), dos fornos, o calor, a luz, as correrias, os motores e tantos outros subsídios que uma serraria exige para funcionar.

É preciso lembrar que os faxineiros da serraria também estão entre os meus antepassados, do mesmo modo que os homens que despejaram o concreto para a construção da represa da hidroelétrica que forneceu a energia da serraria. A cadeia produtiva é extensa e olha que estamos só no começo.

Uma vez na fábrica de lápis — US$ 27.700.000 foram investidos em maquinário e construção. Uma máquina moderna e complexa que faz oito entalhes em cada tira de madeira. Outra máquina que deposita a ponta de grafite, aplica a cola e coloca outra tira em cima da tira anterior. Eu, o lápis, e sete irmãos somos mecanicamente esculpidos por meio desse processo.

O grafite que vai dentro do lápis

Agora vamos falar do grafite. Minha ponta também é complexa. O grafite vem de minas no Sri Lanka. E, seguindo a linha de pensamento da cadeia produtiva, pense nos mineradores e suas ferramentas. Pense nos fabricantes dos sacos de papel onde o grafite é depositado e enviado.

Imagine agora os cordões que amarram os sacos, pense naqueles que os embarcam nos navios e também naqueles que fabricam os navios.
Até o faroleiro que gerencia um farol para guiar os barcos auxiliou no nascimento de um simples lápis. Isso sem falar dos capitães que conduzem os navios para que eles cheguem aos portos, os práticos que movimentam os navios dentro dos portos, e por aí vai.

A argila que é misturada com o grafite vem do Mississipi. Seu processo de refinamento usa hidróxido de amônio. Agentes umectantes são então adicionados, como sebo. Depois de passar por numerosas máquinas, a mistura finalmente surge na forma de filetes expelidos (processo conhecido como extrusão), mais ou menos como se tivessem saído de um moedor de carne, cortados milimetricamente no tamanho certo, secos e assados por várias horas a mais de 1.000 graus Celsius.

Para alisar e aumentar sua resistência, as pontas são então tratadas com uma mistura quente que inclui cera candelilla do México, parafina e gorduras naturais hidrogenadas. Alguma vez você pensou nisso?

Seis camadas de verniz

A madeira do lápis recebe seis camadas de verniz. Isso significa os cultivadores de mamona e os refinadores de óleo de mamona também fazem parte do processo produtivo de um simples lápis. Aliás, é preciso citar que o verniz só adquire um belo tom de amarelo porque envolve a perícia de mais pessoas do que qualquer um pode enumerar!

Sobre minha marca, ela é um filme que se forma pela aplicação de calor sobre carbono negro misturado com resina. Agora, quem produz as resinas e o carbono negro?

O metal

O pedaço de metal na ponta superior de um simples lápis é feito de zinco e cobre. Consegue imaginar todas as pessoas que mineram esses elementos e nas que produzem as brilhantes placas de latão? As pequenas manilhas no meu arco de metal são de níquel preto.

A borracha

E chegou a vez da minha gloriosa coroação, a borracha. Costumo dizer que alguns homens usam para apagar os erros que eles cometem comigo. As borrachas são os ingredientes abrasivos que apagam. A borracha, contrariando aquilo que muitos acreditam, é só para dar consistência a mescla de óleo de semente de colza das colônias holandesas com cloreto sulfúrico. E então chegam os agentes vulcanizantes e aceleradores. A lixa vem da Itália. E o pigmento que colore a borracha é o sulfeto de cádmio.
Não, ninguém sabe!

A criatividade e a liberdade humana

Voltemos ao início do texto: alguém duvida que não há uma pessoa na face da terra que saiba dizer como fazer um lápis? Realmente, milhões de seres humanos participaram da minha criação, e nenhum deles sabe mais do que alguns dos outros.

Eu sou uma combinação complexa de milagres: árvore, zinco, cobre, grafite… mas sem a criatividade e a liberdade humana, eu não existiria. É preciso ser livre para crescer e desenvolver.

Certa vez o governo obteve o monopólio sobre a entrega de correspondências. A maioria dos indivíduos acreditava que as cartas não seriam entregues de nenhuma outra forma, a não ser pelo governo. É preciso acreditar e ter fé que algumas coisas podem ser feitas pela união de conhecimentos, e não exclusivamente sob a benção do governo.

Abaixo o vídeo que serviu de inspiração para este artigo. Vale a pena assistir:

*Paulo Batista é cristão, esposo da Karine e pai do Henrique. Ideólogo, jornalista e militante pela liberdade. Pós-Graduado em Direito Registral, Imobiliário e Contratual, formado em Administração, Comunicação, Marketing, Contabilidade e Transações Imobiliárias. Atualmente é candidato a Prefeito pelo Patriota em Valinhos/SP.


Foto: Solen Feyissa.