Acabar com a inflação brasileira, que chegou a 82% em um único mês, foi uma tarefa que envolveu sete planos econômicos, sob três presidentes da República: José Sarney, com quatro planos: Cruzado I, Cruzado II, plano Bresser e plano Verão (de Maílson da Nobrega); Fernando Collor de Mello, com o Collor I e Collor II e, finalmente, Itamar Franco com o plano Real.
José Ribamar Ferreira Araújo da Costa Sarney era o vice-presidente de Tancredo Neves, que seria o primeiro presidente civil após um longo período de presidentes militares (1964 a 1985). Sarney assumiu a vice-presidência em 15 de março de 1985. Com a morte de Tancredo em 21 de abril de 1985, foi nomeado definitivamente presidente do Brasil. E aí vieram os planos econômicos.
Os 4 fracassos da era Sarney
O ano de 1984, anterior à posse de Sarney, terminou com uma inflação de 907%, equivalente a 21,2% ao mês. Com o primeiro plano de Sarney, o Cruzado I, de 1986, o ano chegou ao fim com uma inflação de 65%, equivalente a 4,26%. A inflação foi dominada, mas o represamento forçado logo a fez explodir novamente, chegando a 27,6% no mês de maio de 1987.
Entra aí o plano Bresser, conduzido pelo professor Luiz Carlos Bresser Pereira, com a inflação chegando a 415,9% nesse ano e a 1037,5% em 1988. Com isso, Bresser pede demissão e é substituído por Maílson da Nóbrega, que segue até o final do governo Sarney sem, contudo, debelar a inflação. Ela termina 1989 em 1782,9%, equivalente a 27,71% ao mês. O presidente Sarney começou seu mandato em 1986 com apenas US$ 11,6 bilhões de reservas internacionais e deixou seu governo com US$ 6,7 bilhões, suficiente para três meses de importações. Por essa razão, foi obrigado a declarar moratória, suspendendo o pagamento da dívida externa, o que perdurou até 1988.
Planos econômicos Collor I e II
Em 15 de março de 1990 toma posse Fernando Affonso Collor de Mello, com apenas 41 anos. Collor convida para ser sua ministra da Fazenda Zélia Cardoso de Mello, uma jovem economista que havia trabalhado na equipe do plano Cruzado. O projeto de Collor era produzir um grande impacto nas contas públicas, com o congelamento por 18 meses de todos depósitos do overnight e das cadernetas de poupança. Os valores congelados seriam devolvidos com correção e juros de 6% ao ano.
A moeda da época, o Cruzado Novo, foi substituído pelo Cruzeiro. Preços e salários foram congelados inicialmente. Vários tipos de incentivos fiscais foram eliminados. O câmbio foi liberado e vários institutos governamentais foram extintos.
Em janeiro de 1991, com a inflação voltando a subir, é lançada a segunda etapa do plano, hoje designada como Collor II, mas a inflação voltou a subir, e então Zélia é substituída em maio por Marcílio Marques Moreira, que era embaixador do Brasil nos Estados Unidos.
A média mensal da inflação em 1989, antes de Collor, era de 28% ao mês. Caiu ligeiramente para 26% ao mês em 1990. Caiu um pouco mais, para 16% ao mês em 1991 e voltou a subir em 1992 para 23% ao mês, quando Collor renuncia.
Do ponto de vista de divisas, Collor encontrou o Brasil com baixíssimas divisas (US$ 6,7 bilhões) e deixou para seu sucessor US$ 23,7 bilhões.
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Itamar Franco e o Plano Real
Itamar Augusto Cautiero Franco, um engenheiro civil eletrotécnico era o vice presidente de Collor e, com sua renúncia, assumiu a presidência da república em 29 de dezembro de 1992, tendo permanecido nessa função até 1° de janeiro de 1995, quando transferiu a faixa presidencial para Fernando Henrique Cardoso.
FHC era seu ministro da Fazenda e foi o responsável pela implantação do Plano Real, o único dos sete planos econômicos que de fato conseguiu debelar a hiperinflação brasileira e garantir o sucesso de sua nova moeda, o Real.
Itamar iniciou sua gestão com os US$ 23,7 bilhões deixados por Collor e entregou a Fernando Henrique U$ 38,8 bilhões, que depois foram “queimadas” pelo câmbio retido pelo presidente do Banco Central do Brasil, Gustavo Franco, até ser demitido pelo ministro da Fazenda, Pedro Malan.
Na data que este artigo foi originalmente escrito, em 20/11/2017, o Brasil possuía US$ 380,6 bilhões de reservas e terminará com inflação inferior ao centro da meta, que é de 4,5% ao ano, com Michel Temer, após Lula I, Lula II, Dilma I e Dilma II.
*Carlos Daniel Coradi é engenheiro e mestre em administração de empresas.
Foto: Gervásio Baptista/Divulgação