Novo Normal: escritórios de 2020 em diante

Novo Normal: escritórios de 2020 em diante

A gripe chinesa não é a culpada pelas mudanças. O que a Covid-19 fez foi trazer para 2020 o que deveria acontecer em 2024. O dito Novo Normal.

Por Arq. Paula Albino em 16/06/2020

Ao longo do tempo os escritórios e a relação de trabalho como nós conhecemos mudaram muito. Comentarei aqui algumas coisas que aconteceram. Algumas delas uma pessoa que não é especialista em projetos corporativos viveu e nem percebeu. Mudanças estas por acontecimentos diversos. Cada uma ao seu tempo. E não será diferente agora com o surgimento da gripe chinesa, que não é a culpada por mudanças – já que para mim elas aconteceriam mais cedo ou mais ou tarde. O que a Covid-19 fez foi trazer para 2020 o que deveria acontecer em 2024. O dito Novo Normal.

O comportamento da sociedade se reflete em um ambiente de trabalho, até os anos 80 os escritórios tinham cinzeiros cravados nas mesas de trabalho, diferente de hoje em dia, nem se cogita existir mais, aliás, devemos lembrar que na década seguinte até os fumódromos foram extintos, que dirá um cinzeiro no interior de uma empresa.

No final dos anos 80, a tecnologia, já presente na maioria das empresas, iniciou o processo de mudança das pessoas, sua relação com o trabalho, a velocidade de tarefas e principalmente o controle das tarefas. O computador, passou a ser um item indispensável em qualquer empresa que almejava crescer, tomar forma e volume, coube ao colaborador, se preparar para adentrar ao mercado que demandava este conhecimento e controle.

Com a implantação, cada vez maior de computadores nas empresas, a adequação das mesas de trabalho que eram antes retangulares, passaram a demandar mais espaço para este recente item tecnológico, viriam a ser em L, já que somente o monitor ocupava 80cm x 80cm, ocasionando que, estações maiores, ocupavam maior espaço físico, maior consumo energético, maior custo de implantação e custos de aluguel.

A estação de trabalho, nos escritórios passou a ser algo singular a uma pessoa só, o espaço era tão grande que por vezes percebíamos pessoas com plantas e porta-retratos, tudo isto tornava aquela estação de trabalho em uma ilha pessoal do colaborador, quase que separada da empresa.

Já nos anos 90, os escritórios passavam por outra grande mudança, novamente ligada a tecnologia, as empresas buscavam a redução de custos de consumo de energia, redução de custos com aluguel, redução de pessoal, portanto mudanças sérias estavam começando a acontecer. Esta nova mudança demandava que as pessoas fossem novamente preparadas para isto.

Surge então a mudança tecnológica que mudaria uma geração, os computadores já não demandavam mais de monitores gigantes, surgiram os monitores de Plasma, o que reduziu consideravelmente o espaço de trabalho, mas não existiam muitas empresas com capacidade financeira para grandes mudanças, que viriam a impactar no ser humano.

Participei do projeto da Seguradora Vera Cruz – que viria a se chamar futuramente Mapfre – e que detinha as condições financeiras para mudar tecnologia e costumes. A empresa, na época, iria mudar o seu mobiliário e, consequentemente, compactar pessoas, resolveu contratar um psicólogo, que preparou todos os funcionários para a grande mudança de costume, a estação de trabalho não seria mais o local de apenas uma pessoa, deveriam todos se desfazer das fotos, plantas e demais objetos que tornavam aquele local pessoal, para transforma-lo em profissional.

“Não invista em estações de trabalho singulares. 75% da nova geração nem quer ter horário fixo de trabalho, quanto mais uma mesa fixa”.

Uma empresa preocupada com o bem estar do funcionário deve estar atenta a estas mudanças, igualmente neste momento prestar atenção ao ser humano e o ambiente de trabalho sem se descolar do objetivo e da função social que a empresa se propõe.

Adentramos nos anos 2000, as preocupações continuam, além da tecnologia em constante mudança, temos o ser humano colaborador que é cíclico e requer mudanças a todo tempo.

Nestas gerações constatamos que itens como conforto acústico, é o responsável por ganho de produtividade de até 40% em um escritório, tente trabalhar em um escritório barulhento é insuportável, por isto, chamo atenção a uma matéria deste portal, O futuro do home office, que reflete a preocupação das pessoas com a dispersão da atenção no home office, é uma realidade em um escritório será uma realidade a ser enfrentada no home office.

“A eficiência do trabalho está ligada particularmente com o objetivo e o quanto a empresa é comprometida com o bem estar do colaborador”.

O excesso de compactação dos escritórios, com mesas cada vez menores e conhecidos como Open Space, trabalho colaborativos, trouxeram mudanças drásticas para as pessoas, que não tinham mais liberdade de falar ao telefone, conversas particulares, viram suas fragilidades de arrumações sendo avassaladas para os outros colaboradores e sentiram então a mudança de que a mesa de trabalho era do trabalho e somente isto.

Após os anos de 2015, os escritório começaram a criar áreas de descompressão. Esta área era a leitura de que o colaborador não estava bem, afinal, você só descomprime o que você comprimiu. A descompactação gerou ganhos importantes de produtividade.

“Áreas isoladas de descompressão foram criadas nas empresas, com o objetivo de reduzir a pressão e melhorar a concentração, quando na verdade, o funcionário deveria ter estas melhorias em seu próprio posto de trabalho.”

Em tempos de vírus chinês, fomos obrigados a trazer para a data presente, ganhos de conhecimento que só aconteceriam em mais ou menos 5 anos. Temos colegas que não imaginavam como seria abrir uma sala de reunião virtual. Temos chefes que não sabem se os seus funcionários estão trabalhando de terno ou não, que não sabem mais como comandar a distância. Por outro lado, temos colaboradores que não sabem lidar com tamanha liberdade, que não conseguem se compenetrar totalmente no trabalho, que trabalham até mais que antes. Ou seja, estamos em total treinamento, só que sem tempo para aprender. Mas passaremos e, acredito, sairemos melhores de tudo isso. As empresas não acabarão, os empregos não acabarão, mas seu tamanho pode nunca mais a ser o mesmo. O que não significa não ter as mesmas pessoas, significa ter outra forma de trabalhar.

No final, seja um assunto, seja outro, a tecnologia, em conjunto com o ser humano, vem sendo a protagonista de nosso crescimento, pessoal e profissional. Quero terminar este meu texto com uma antiga frase minha que reflete totalmente o que acredito no retorno de nossas atividades normais:

“O local de trabalho é apenas um ponto de encontro em comum entre colaboradores e a empresa onde trabalham.”

*A arquiteta Paula Albino é CEO da Arq7.


Foto: freepik