Jornal dinamarquês pediu desculpa pela cobertura da Covid-19

Jornal dinamarquês pediu desculpa pela cobertura da Covid-19

Brian Weichardt, colunista do Ekstra Bladet, afirma que jornalistas replicaram dados fornecidos pelas autoridades sem grandes análises e questionamentos e que isso levou a propagação de inverdades.

Por Mari Gatti em 07/02/2022

O jornal dinamarquês Ekstra Bladet pediu desculpas pela cobertura feita acerca da Covid-19 – por falta de análise e questionamento de dados oferecidos pelas autoridades do país.

O pedido de desculpas foi feito pelo colunista Brian Weichardt. Segundo ele, em boa parte do tempo os jornalistas se limitaram a “regurgitar números fornecidos por funcionários do governo e por ‘fontes’”, sem grandes análises.

Abaixo, a reportagem em que o jornal dinamarquês pediu desculpas pela forma como foi feita a obertura da Covid-19

Nós falhamos.

Há QUASE dois anos, nós – imprensa e população – estamos quase hipnoticamente preocupados com os números diários do coronavírus informados pelas autoridades.

OLHAMOS para as oscilações do pêndulo numérico acerca de infectados, internados e falecidos com corona. Fomos noticiados sobre cada mínima movimentação do pêndulo, apresentadas por especialistas, políticos e autoridades, que constantemente nos alertam sobre o monstro corona adormecido debaixo de nossas camas. Um monstro apenas esperando que adormeçamos para que possa atacar na escuridão da noite.

O estado de alerta mental constante esgotou tremendamente a todos nós. É por isso que nós – a imprensa – devemos também fazer um balanço dos nossos próprios esforços. E nós falhamos.

NÃO fomos vigilantes o suficiente no portão do jardim quando as autoridades foram obrigadas a responder o que realmente significava que as pessoas são hospitalizadas com corona e não por causa da corona. Porque faz a diferença. Uma grande diferença. Mais precisamente, os números oficiais de hospitalização se mostram 27% maiores do que o número real de quantos há no hospital simplesmente devido ao corona. Só sabemos disso agora.

É CLARO que as autoridades, antes de mais nada, é que são responsáveis ​​por informar a população de forma correta, precisa e honesta. Os números de quantos estão doentes e morreram de corona deveriam, por razões óbvias, ter sido publicados há muito tempo, para que tivéssemos uma imagem mais clara do monstro debaixo da cama.

NO TODO, as mensagens das autoridades e dos políticos ao povo nesta crise histórica deixam muito a desejar. E, portanto, eles mentem sobre como dirigiram a situação ao passo que setores da população perdem a confiança neles.

OUTRO exemplo: Constantemente nos referimos às vacinas como nossa ‘super arma’. E nossos hospitais são chamados de ‘super hospitais’. No entanto, esses super-hospitais são aparentemente pressionados ao máximo, embora quase toda a população esteja armada com uma super arma. Até as crianças foram vacinadas em grande escala, o que não foi feito em nossos países vizinhos.

EM OUTRAS PALAVRAS, há algo aqui que não merece o termo “super”. Se são as vacinas, os hospitais ou uma mistura de tudo isso, cabe a cada um formar sua opinião. Mas, de qualquer forma, a comunicação das autoridades à população não merece de forma alguma o termo “super”. Pelo contrário.

* Mari Gatti, escritora.


Foto: Nijwam Swargiary