Fim do “novo normal”: O que fazer com os escritórios?

Fim do “novo normal”: O que fazer com os escritórios?

A expectativa é que as empresas estarão muito próximas de ter 50% do tamanho que tinham antes de 2020, falando em termos de área dos prédios em que estão estabelecidas.

Por Reinaldo Camargo em 01/02/2022

Fim do “novo normal”. E agora?

Em matéria realizada neste jornal eletrônico no mês de junho de 2020, a entrevistada Paula Albino, CEO da Arq7 arquitetura, chamou atenção para o fato de que os empresários deveriam se preparar para  as grandes mudanças que se avizinhavam devido às quarentenas.

Paula também tratou dos aspectos humanos, tecnológicos e de saúde. Falou principalmente sobre o ambiente de trabalho, haja visto que muitas empresas tornaram viável a permanência de equipes inteiras em suas residências em home office.  

De imediato, o aspecto de saúde laboral e postural da equipe trabalhando em casa gerou preocupação e a necessidade de lidar com a ergonomia do novo local de trabalho.

Empresas como a Natura, dentre outras, enviaram cadeiras e mesas para seus funcionários, minimizando os impactos na saúde. No segundo momento, a acomodação foi tanta que empresas se viram em um grande dilema: Devemos ainda permanecer locando os escritórios atuais ou não?

Muitas decidiram entregar seus andares com o claro objetivo de economizar no pagamento do aluguel e demais despesas, já que não sabiam e não podiam determinar quando os funcionários deveriam voltar ao escritório.

Algumas empresas simplesmente abriram mão de toda a infraestrutura já instalada e findaram seus contratos, o que gerou verdadeiros escritórios fantasmas, completamente montados, a procura de novos locadores.

Surgiu então o fenômeno comercial que consistia em proprietários de grandes escritório saírem à caça de locadores que ainda estavam ativos e não queriam abrir mão de suas instalações antes das novas decisões. Neste momento empresas que mantiveram seus escritórios foram assediadas para trocarem de locação para locais mais baratos e às vezes maiores. Um dos clientes da Arq7 decidiu nesta época locar outro escritório, que além de ser mais barato estava completo. Mesmo sem a imediata necessidade de uso por no mínimo 1 ano, decidiram ajustar o prédio para os novos ares que só viriam em 2022, mostrando que os investimentos em prédios livres valiam a pena financeiramente.

A experiência com home office e as expectativas com o fim daquilo que chamaram de “novo normal”

Empresas experimentaram a inexistência de um local de trabalho e grande redução de custo, já que suas operações não estavam mais ativas e em plena retração. Nesta fase, os colaboradores enclausurados em suas casas viviam as mais diversas experiências: experimentaram dividir suas casas com os barulhos que nunca escutaram, com as rotinas de vizinhos que nunca perceberam, com latidos sistemáticos de cachorros que nunca ouviram, latidos estes muitas vezes ecoados em reuniões virtuais ao longo no ano, o que ajuda na redução de produtividade, já que 40% dela esta diretamente ligada ao barulho constante.

Segundo a associação de síndicos do Brasil, reclamações sobre barulhos de crianças ao longo deste último ano 2021 superaram em número as reclamações por barulhos de obras, ficando apenas atrás da reclamação de pares de sapatos jogados no corredor dos apartamentos. Tudo isto dito, para mostrar que a realidade da vida, quando o normal da vida bate na porta as pessoas que não conseguem trabalhar neste ambiente, apesar da liberdade, preferem retornar aos seus escritório pelo menos por algum tempo.

Na matéria acima citada, o escritório Arq7 já havia chamado a atenção para que os escritórios tem outra finalidade além de controle, tem a finalidade de ajustar objetivos, ajustar o comando das operações e, portanto, se tornar um local de ponto de encontro entre a equipe, os gestores e a empresa: um local propício para o antigo e bom brainstorm.

É imprescindível a constatação de que os colaboradores não querem mais voltar para os formatos antigos de escritórios. Tanto que, nos EUA, em pouco mais de 6 meses, 4,5 milhões de pessoas resolveram pedir demissão ante a obrigatoriedade de voltar a trabalhar nos formatos anteriores. Em outras palavras: “prefiro ficar sem emprego a voltar a trabalhar daquela forma”.

Este movimento foi por lá  denominado de “A Grande Renúncia”. Quem diria que isto aconteceria?

Se pudéssemos dar a nossa opinião como arquitetos corporativos, diríamos que as empresas estão muito próximas de ter 50% do tamanho que tinham antes de 2020, e só não será menor devido a departamentos para assuntos regulatórios, verdadeiros manicômios instalados nas empresas para tentar entender a cada minuto às “burocracias e as possibilidades” das leis brasileiras. O medo das empresas de serem condenadas por fazer alguma coisa ilegal, em termos contábeis e financeiros, inchou esses departamentos de pessoas que só “tentam entender tudo aquilo”, um eterno compliance no país que demanda uma ampla e urgente reforma tributária.

Para concluir nossa matéria e dar uma pitada de curiosidade nela, estejamos atentos aos escritórios Metaverso*, que poderão anunciar antecipadamente talvez o fim dos escritórios corporativos ou no mínimo uma queda ainda maior na porcentagem acima mencionada. Já temos tecnologia para isso, uma vez que o 5G tornará a vida digital mais rápida.

* Reinaldo Camargo


Foto: Israel Andrade