Escolas cívico-militares: o que o PISA revela?

Escolas cívico-militares: o que o PISA revela?

Segundo o então ministro da Educação, Sr. Abraham Weintraub, “50% dos alunos brasileiros não possuem condições de fazer uma conta básica, não sabem quanto é 10% de 100”.

Por Reinaldo Camargo em 18/07/2020

Antes de adentrar aos resultados do colégio brasileiros, dentre eles os cívico-militares, vamos entender a classificação do Brasil nos resultados apresentados no PISA que é o Programa Internacional de Avaliação de Alunos, ano base 2018, realizado pela OCDE.    

Esta lista é qualificada nas notas de entendimento de texto, foco principal do exame do PISA, já que entender um texto é tão ou mais importante que resolver um problema. É ponto pacífico que interpretação de texto é questão de sobrevivência educacional.

Nesta lista o Brasil aparece em 56º lugar entre as 79 nações estudadas, com pontuações de 413 pontos para leitura, 384 pontos para matemática e 404 pontos para ciências. O Brasil está atrás de outros países sulamericanos como Chile e Uruguai, quando considerados a leitura, e em último lugar, quando considerado matemática e ciências.

A média geral de notas que a OCDE é de 487 pontos para leitura, 489 pontos para Matemática e 489 pontos para ciências. Percebam que se levarmos em conta a média de leitura em 487 o Brasil esta 15,2% abaixo da média dos países estudados e avaliados. Portanto, uma melhoria drástica em nosso ensino é questão prioritária para nosso futuro.

Estes resultados, ao meu ver e análise, mesmo que simples, demonstram que as políticas de ensino ao menos nos últimos 20 anos – já que são estes os alunos avaliados – foi, no mínimo, errada, para não dizer criminosa com as nossas crianças. Desde o ano 2000 não melhoramos absolutamente em nada, mesmo considerando que o valor de gastos em dólar por aluno na escola foi acima dos demais países de nosso continente.

Diante dos resultados encontrados no PISA, não é incomum encontrar pessoas que menosprezem os resultados das escolas militares, dizendo que são números comuns e que este tipo de escola não demanda a atenção que esta sendo exposta. No entanto, em análises também com a mesma simplicidade, podemos afirmar que os números das escolas militares, levados em conta a representatividade, são extremamente promissores e demandam atenção sim e, por que não, mais estudos e avaliações, para que depois das mesmas décadas possamos dizer se foi errada ou certa a iniciativa.

Como brasileiro, me entristece a dificuldade em obter o mínimo de informações e resultados das escolas particulares, escolas cívico-militares e escolas federais. Uma das poucas fontes encontradas foi uma matéria no site do Gazeta do Povo, que ressalta que “O desempenho médio dos estudantes de 12 institutos federais e de um colégio militar que participaram da avaliação é comparável ao de jovens de nações que figuram entre as 20 melhores classificadas no ranking mundial”.

50% dos alunos brasileiros não possuem condições de fazer uma conta básica

Em coletiva para apresentar os resultados do PISA, o então ministro da Educação, Sr. Abraham Weintraub, disse que “50% dos alunos brasileiros não possuem condições de fazer uma conta básica, não sabem quanto é 10% de 100, sabem o mínimo, sabem apenas que se entregam uma nota de R$ 5,00, para pagar algo que custa R$ 3,00, receberão de volta R$ 2,00”.

Na mesma coletiva o presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais, INEP, Sr. Alexandre Ribeiro Lopes, informou que os dados da OCDE relacionados as escolas militares são sigilosos e protegidos por exigência da própria OCDE. Entretanto, afirmou que “algumas escolas são separadas por sub grupos no INEP e mostram que 12 institutos federais e um colégio militar estão dentre 597 escolas avaliadas no Brasil  e apresentam, no mesmo padrão estatístico da metodologia definida pela OCDE, o qual não deixa dúvida, portanto, que o tamanho da desigualdade entre o ensino público estadual, municipal daquele administrado pelo governo federal ou por militares, são extremos, já que o resultado das escolas federais e cívico militares superaram a média dos países mais ricos.”

Dados do INEP

As mais graves denúncias feita pelo Sr. Alexandre indicam que 68% dos alunos avaliados de um universo de mais de 10.000 alunos são de escolas estaduais e que mais de 50% deles não possuem capacidade mínima de leitura, portanto muito abaixo do que a OCDE considera básica. São, portanto, cidadãos que não conseguirão exercer a sua atividade social plena.

41% dos mesmos alunos reclamam que a indisciplina nas salas de aula é até pior que o bulling e que o tempo perdido por professores para acalmar a classe, por vezes se perde mais de 50% do tempo de que deveria ter de aula. Portanto 50% do tempo é destinado a disciplina e educação comportamental e não ao conhecimento.

23% dos alunos entrevistados declaram que se sentem completamente abandonados pelos professores, que isto reflete em notas baixas no próprio PISA. Isto reflete também que os professores sem a devido ambiente de trabalho não conseguem produzir a multiplicação do conhecimento.

Por fim, após estas 4 matérias expostas sobre a escola cívico-militar, uma coisa podemos afirmar: que o formato da escola cívico-militar, se não for a melhor política de ensino, é, no mínimo, a melhor política de formação de caráter, que possibilitará que o cidadão ao menos consiga exercer seu papel e sua cidadania.


Foto: Valter Campanato/Agência Brasil.