Eficácia da Coronavac: método aponta menos de 50%

Eficácia da Coronavac: método aponta menos de 50%

O professor Stefano De Leo, calculou a eficácia da Coronavac. Ele diz que é preciso entender o cálculo para entender a eficácia da vacina.

Por Redação em 25/01/2021

O professor da Unicamp Stefano De Leo publicou artigo no Portal Poder 360 explicando como se calcula a eficácia de uma vacina. Segundo ele, para entender a eficácia da Coronavac é preciso também entender o cálculo.

E ele diz: “entenda como se calcula a eficácia de uma vacina e por que uma vacina com eficácia de 60% e logística simples pode ser mais eficiente do que uma com eficácia de 90% e logística mais complicada”.

Vejamos a seguir:

1) Qual é a fórmula para calcular a eficácia de uma vacina?

Se “V” é o número de pessoas do grupo que tomou vacina e “P” o número de pessoas do grupo que tomou placebo e tivemos “v” contaminados no grupo que tomou vacina e “p” contaminados no grupo que tomou placebo, a fórmula para determinar a eficácia da vacina é dada por:

Formula 1: como calcular a eficácia de uma vacina

Se os grupos, como de praxe acontece, têm números de pessoas bem próximos (“P” é quase igual a “V”), a fórmula pode ser simplificada da seguinte forma:

Formula 2: como calcular a eficácia de uma vacina

2) Qual vacina está sendo distribuída na Europa?

Os países da União Europeia utilizam a vacina BNT162b2, fabricada pela Pfizer, uma das maiores empresas farmacêuticas do mundo, com sede em Nova York, em colaboração com a empresa de biotecnologia alemã BioNTech.

Esta vacina se baseia na injeção de um mensageiro RNA em células humanas que estimula a produção de proteínas virais que imitam o coronavírus.

Isso permite treinar o sistema imunológico. Esta vacina requer duas doses administradas com 21 dias de intervalo e armazenamento a –70ºC.

3) Qual é a eficácia dessa vacina BNT162B2?

Os dados sobre a eficácia dessa vacina foram publicados na revista internacional The England Journal of Medicine.

Dos 36.523 participantes incluídos na análise final, 18.198 tinham tomado duas doses de vacina e 18.325, duas doses de placebo. Os números bem próximos entre quem recebeu vacina e quem recebeu placebo nos permitem usar a fórmula simplificada. Tendo tido 8 contaminados no grupo que tomou vacina e 162 no grupo que tomou placebo, temos uma eficácia global.

Formula 3: como calcular a eficácia de uma vacina

Claramente, quando se fala de eficácia, apresenta-se também um intervalo de confiança. Sem entrar em detalhes técnicos, esse intervalo fica pequeno se tivermos um grande número total de contaminados. Por isso espera-se chegar ao número de 150 contaminados antes de divulgar os dados.

Uma vez apresentada a eficácia global, pode-se analisar a eficácia para faixa etária e desfechos secundários.

 4) Qual é a eficácia da vacina Coronavac?

Como pode ser lido no artigo publicado na Science com o título “Brazil announces ‘fantastic’ results for Chinese-made COVID-19 vaccine, but details remain sketchy”, fala-se de 218 casos leves (a OMS usa 4 classificações: assintomáticos, leves, moderados, graves). Desses 218, foram quase 160 no grupo de placebo e “menos que 60” no grupo de vacinados, segundo o diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas.

Devido ao fato de não termos dados oficiais, usaremos o seguinte: dos 218 que tiveram sintomas leves, 160 receberam placebo,58 receberam a vacina. Usando a fórmula simplificada, teríamos uma eficácia global de:

Formula 4: como calcular a eficácia de uma vacina

5) Por que esse número não bate com a eficácia de 78% a 100% divulgada pelas autoridades paulistas?

É verdade que o governador do Estado de São Paulo, João Doria (PSDB), falou de eficácia “de 78% até 100%”, mas o presidente do Butantã, na mesma apresentação, deixou bem claro que não se falava de eficácia. Ele falou claramente que 78% das pessoas contaminadas no grupo de vacinados não precisaram procurar o atendimento médico.

Isso quer dizer, se o número 58 for correto, que somente 13 pessoas precisaram de atendimento médico, mas nenhuma delas evoluiu para um quadro moderado ou grave (e aqui temos os 100%).

Óbvio que os desfechos secundários num grupo precisam ser comparados com aqueles do outro grupo, então aqui faltam informações. Precisaríamos saber dos 160 contaminados no grupo de placebo quando precisaram de atendimento médico, quantos evoluíram para um quadro moderado ou grave e usar uma fórmula parecida àquela usada para eficácia para comparar os 2 grupos.

6) Se confirmados os 64%, a Coronavac seria uma vacina de potencialidade inferior à vacina da Pfizer, que tem uma eficácia de 95%?

Absolutamente não. Tentarei explicar com um exemplo hipotético porque não seria assim. Vamos considerar que o Brasil venha a ter as duas vacinas disponíveis a um mesmo momento. Vamos então dividir o país em duas zonas, que chamaremos de “zona A” e “zona B”, cada uma delas com 100 milhões de habitantes.

Agora vamos supor que, com a vacina da Pfizer na “zona A”, devido à importação do exterior e à estocagem a -70ºC, conseguiremos vacinar até junho 10% da população. E que na “zona B”, devido à fabricação nacional e a uma estocagem mais simples, conseguiremos vacinar até junho 50% da população.

Em junho, teríamos protegidos na “zona A” (usando a vacina Pfizer) 9,5 milhões de habitantes, enquanto na “zona B” (usando a CoronaVac), teríamos protegidos 32 milhões de pessoas.

É somente um exemplo hipotético para explicar como outros fatores, além da eficácia, por exemplo a logística, precisam ser levados em consideração.

7) Se a Coronavac for aprovada pela Anvisa, qual porcentagem de eficácia para decidir se vacinas?

Tomar a vacina, mesmo se você não for uma pessoa de elevado risco, não é uma escolha para se proteger, mas para proteger os outros também. A vacina é um dos maiores avanços científicos realizados. A Anvisa é uma organização séria e competente, e podemos confiar nos profissionais de saúde brasileiros – temos então 3 ótimos motivos para nos vacinarmos.

Aproveito, tendo citado estes profissionais, para agradecer enfermeiros e médicos pelo imenso trabalho realizado em 2020, trabalho que continuam fazendo em 2021, às vezes em condições não ótimas.

8) Finalizando, diria algo sobre os efeitos colaterais?

Os efeitos colaterais existem sempre em medicamentos, por isso vêm acompanhados de bulas (isso acontece também para vacinas). Esses efeitos são estudados e monitorados nas fases anteriores à fase 3, que se ocupa da eficácia das vacinas. A Anvisa no Brasil, a FDA nos EUA e a EMA na União Europeia controlam efeitos colaterais, eficácia, etc., analisando com cuidado os dados das fases 1, 2, e 3.

Então, quando aprovadas, as vacinas são seguras e eficientes.

Na Itália, uma última observação minha convenceu familiares, amigos e colegas. Se estiver preocupado com os efeitos colaterais da vacina, pense nos efeitos colaterais dos políticos despreparados que nos governam e verá que, esses sim, preocupam muito mais do que os raros efeitos colaterais de uma vacina.

9) Nosso Cálculo

Nós do Altavista.news, seguindo a lógica do professor Stefano De Leo, fizemos a nossa conta. E o resultado não poderia ser outro:

85 contraíram Covid-19 dentre 4653 do grupo dos vacinados: 85/4653 = 0,0182677842
167 contraíram Covid dentre 4599 do grupo dos que tomaram placebo: 167/4599 = 0,0363122417
Dividindo um pelo outro dá 0,5030750877.

Portanto 1 -0,5030750877 = 0,496924912. Ou seja, 49,7%.
Resumindo: 85 contraíram Covid-19 de 4653 do grupo dos vacinados, 85/4653 = 0,0182677842. 167 contraíram Covid-19 de 4599 do grupo dos que tomaram placebo, 167/4599 = 0,0363122417.

Dividindo os números dá 0,5030750877. VE = 1 – 0,5030750877 = 0,496924912. Portanto a eficácia é 49,69%.

Para ler o artigo na íntegra, clique aqui.



Foto: Hakan Nural.