A doutrinação escolar tem sido pauta de discussão desde sempre, e recentemente o caso do aluno que foi “humilhado” em sala de aula por contrapor inverdades ditas por uma candidata do Psol a respeito do agronegócio.
Criada em junho de 2021, a Associação de Olho no Material Escolar é uma organização sem fins lucrativos que tem por objetivo a atualização do material escolar com base em conteúdo científico, retratando a realidade produtora do agronegócio do país.
A administradora de empresas e mãe Letícia Zamperlini Jacintho, de 40 anos, preside o grupo. Hoje, ela atua nas empresas da família, algumas ligadas ao agronegócio – e um dos objetivos é reverter a demonização do setor onde ela trabalha, promovida por certos grupos.
Veja abaixo parte da entrevista de Letícia para a Revista Oeste.
Existe muita doutrinação ideológica no material didático?
O problema está mais ligado à falta de conhecimento. Está havendo muita repetição de informações que não se sustentam. Os autores estão há muitos anos repetindo a mesma coisa. Não acredito que exista um país inteiro ideologizado. Eu acredito que as pessoas tentam fazer um bom trabalho na educação, mas falta informação de boa qualidade, interesse e vontade para ir atrás do conhecimento. Por isso que o De Olho No Material Didático faz o trabalho de aproximação. Partimos do pressuposto de que é falta de conhecimento. Temos de despertar esse interesse por e pelo agro.
A senhora pode citar exemplos de distorções sobre o agronegócio mencionadas no material didático?
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Alguns materiais diziam que a soja do Brasil serve para fazer molho shoyu no Japão, que não a consumimos internamente. O setor é acusado de fazer uso do trabalho escravo, e o material não traz fontes públicas e oficiais do Ministério do Trabalho. Mostram a exceção como se fosse a regra. Alguns materiais também omitem benefícios de consumo de proteína animal para o desenvolvimento do cérebro humano. Além disso, tudo aparece com uma linguagem muito negativa, o que não retrata a realidade. Acredito ser direito dos estudantes conhecer a realidade produtiva do seu país. A educação deveria encantar o aluno, mostrar as possibilidades de desenvolvimento que o setor oferece. Se a gente tira essa oportunidade de a criança sonhar, só passando o lado ruim, fica aquela síndrome do cachorro vira-lata. Não falamos, por exemplo, da coragem dos colonos que migraram da região Sul do país para o Centro-Oeste. Não mostramos os desafios enfrentados e para que patamar eles levaram aquela região. Em vez disso, essa história é contada de modo degradante, como se fosse apenas exploração, sem dificuldades. Como se o dinheiro entrasse fácil no bolso. São histórias de vida, de famílias inteiras que se dedicaram muito para chegar ao patamar produtivo que o Brasil tem hoje.
O que poderia ser apresentado aos estudantes sobre o setor do agronegócio, que hoje não é mostrado?
Não são mostradas oportunidades que existem no setor. Não mostramos as tecnologias usadas, as possiblidades de emprego, não só no campo, mas em pesquisa, indústria e outras tantas formas de crescer com um plano de carreira estruturado, por exemplo. Todo o desenvolvimento da robotização e da genética, que poderia encantar e motivar os alunos, não é mostrado. A tecnologia usada no cerrado, por exemplo, além de ser útil para produzir alimentos, melhorou as condições para a fauna e a flora. Onde estão as plantações, a vida floresce com animais silvestres. A Embrapa [Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, vinculada ao Ministério da Agricultura], que é um orgulho nacional e produz muita tecnologia, quase não é citada. Ela seria a fonte ideal para informações fidedignas sobre o agro.
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Foto: Suad Kamardeen