Nunca se ouviu falar tanto em propósito no mundo corporativo como agora. Também nunca ouvimos falar tanto em demissões online como agora.
Qual o propósito da empresa? Sua marca tem propósito? Qual o propósito desta campanha? Este produto tem um propósito?
O mundo está cheio de perguntas e, não surpreendentemente, os clientes buscam cada vez mais respostas.
A verdade é que durante anos empresários e executivos tentaram evoluir esta questão, assim como continuam tentando demonstrar um propósito voltado para a preocupação com o desenvolvimento econômico, social e ambiental, a famosa ESG, que envolve, principalmente, questões de governança e compliance.
Em contrapartida, as empresas entregam suas reputações a estes mesmos gestores, e vamos combinar, nem sempre eles conseguem manter a linha. E é por isso que a ausência de um propósito claro pode destruir a reputação de uma empresa ou instituição.
Propósito sem aderência pode ter sido a causa de demissões online
Recentemente Vishal Garg, diretor-presidente da Better.com demitiu 900 funcionários. Sim, é isso mesmo: 900 funcionários de uma só vez.
Surpreendentemente isso aconteceu de forma virtual, via videoconferência, durante o famoso Zoom da semana, e em apenas três minutos.
“Se você está nesta teleconferência, você faz parte do grupo azarado que está sendo demitido”, disse Garg.
O anúncio abrupto de rescisão de contrato colocou o executivo no topo da lista das mancadas empresariais, ou melhor, das empresas que não conseguem trabalhar seu propósito internamente.
O fato é que vivemos um momento bastante diferente no mundo corporativo. Ainda assim, hábitos tradicionais de trabalho foram alterados.
O home office, por exemplo, virou rotina, e a maioria dos colaboradores também estão aprendendo a lidar com isso.
A gente sabe que quando isso acontece, tem sempre dois pontos: de um lado o colaborador que se sente livre para trabalhar em casa ou em qualquer outro lugar, e do outro lado, a empresa que espera resultados deste colaborador.
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Mas vale também ressaltar que quando se aumenta a liberdade, muitas vezes, aumenta também a expectativa sobre o retorno. Neste caso, sobre a entrega de resultados.
O caso Better e as demissões online
Quando uma empresa como a Better.com divulga o propósito de facilitar a vida das pessoas (clientes), com atendimento humanizado, amigável e agradável, por exemplo, não pode demitir 900 funcionários de forma tão fria assim.
Entretanto, não se pode oferecer aquilo que não se tem. Se a empresa não é humana o suficiente, não pode exigir que os funcionários sejam sensíveis o suficiente para vender seus produtos.
Em outras palavras, quando a empresa demite 9% do quadro de funcionários de maneira fria e mecânica, mostra para todo o ecossistema o quanto seu propósito é vago e falho.
Propósito é algo que precisa ter aderência. E isso começa com o time de colaboradores. É algo de dentro para fora e que deve acontecer de forma natural.
E é por isso que eu não canso de dizer: é essencial que as empresas aprendam a lidar com os colaboradores, inclusive em situações como esta, de demissão em massa.
O capital humano ainda é o maior bem de uma empresa! Se a empresa não consegue incutir propósito nas pessoas, sempre sofrerá com isso.
Isso cabe também aos gestores. Na maioria das vezes, são eles quem representam as empresas. É preciso deixar as dificuldades de lado e aprender a mover todo o time num mesmo propósito!
Ao meu ver, este é o caminho.
Mauricio Conti – founder wconnect e Simples Id.
Foto: Chris Montgomery.