O livro “Celso Daniel – política, corrupção e morte no coração do PT”, de Navarro Perejon, aborda um dos maiores mistérios da política brasileira recente. Afinal, quem mandou matar Celso Daniel?
Poucos crimes brasileiros recentes mobilizaram mais o imaginário popular do que o ocorrido no mesmo ano em que Luiz Inácio Lula da Silva seria eleito presidente da República pela primeira vez – campanha para a qual, aliás, Celso Daniel fora designado coordenador.
Somente catorze anos depois viria o livro-reportagem sobre o caso: “Celso Daniel – política, corrupção e morte no coração do PT”. O livro trouxe muitos fatos novos e esclarecedores, como as transcrições de algumas conversas jamais divulgadas.
A estranha sequência de assassinatos
Celso Daniel, então prefeito de Santo André e coligado ao PT, foi morto a tiros no dia 18 de janeiro de 2002, logo depois de ser vítima de um sequestro.
O caso tornou-se ainda mais intrigante devido a sequência de assassinatos de pessoas relacionadas com o crime:
- Dionísio Aquino Severo: responsável pelo sequestro de Celso Daniel. Foi preso três meses após o crime e afirmou à polícia que tinha revelações a fazer, mas antes de contar o que sabia foi encontrado morto no Presídio do Belém
- Sérgio ‘Orelha’: responsável por esconder Dionísio em sua casa após o sequestro. Foi morto a tiros em novembro de 2002;
- Otávio Mercier: era investigador da Polícia Civil. Telefonou para Dionísio um dia antes da morte de Daniel. Foi encontrado morto em casa também com marcas de tiros.
- Antonio Palácio de Oliveira: garçom que atendeu o então prefeito na churrascaria da qual ele saía com Sombra quando foi sequestrado. Antonio faleceu em um acidente de moto quando era perseguido por dois homens em 2003;
- Paulo Henrique Brito: foi testemunha do assassinato do garçom. Morto com um tiro vinte dias depois de Antonio;
- Iran Moraes Redua: agente funerário que reconheceu o corpo do prefeito jogado em uma estrada e acionou a polícia em Juquitiba. Foi assassinado com dois tiros em novembro de 2004;
- Carlos Delmonte Printes: Médico legista que emitiu o laudo identificando sinais de tortura no corpo do petista. Ele também afirmou que Celso Daniel foi embalsamado, o que possibilitaria uma autópsia posterior, e que a real data da morte foi em 19 de janeiro. Printes foi encontrado morto em seu escritório em 2005. A Polícia Civil concluiu que o médico cometeu suicídio por problemas conjugais, ingerindo medicamentos que pararam sua respiração.
Para o oftalmologista João Francisco Daniel, irmão do ex-prefeito, Celso foi assassinado porque possuía um dossiê indicando um esquema corrupto que desviava dinheiro para o PT.
A tese de Romeu Tuma Júnior
Em entrevista, Romeu Tuma Júnior afirmou o seguinte: “Aquilo foi um crime de encomenda. Não tenho nenhuma dúvida. Os empresários que pagavam propina ao PT em Santo André não queriam matar, mas assumiram claramente esse risco. Era para ser um sequestro, mas virou homicídio”.
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Tuma Jr. era o delegado da área onde o crime aconteceu. Reconheceu oficialmente que era o Celso Daniel e mandou abrir a investigação para apurar a morte, mas foi posteriormente afastado do caso.
Lula seria mandante?
Marcos Valério, empresário e operador do esquema do Mensalão, afirmou que o ex-presidente foi mandante do assassinato.
Valério disse ao Ministério Público que ele próprio e Gilberto Carvalho, que era chefe de gabinete de Lula, compraram o silêncio do empresário Ronan Maria Pinto, em um encontro, um ano após a morte de Celso Daniel.
A motivação do crime teria sido a recusa de Celso Daniel de financiar uma caravana de Lula pelo Brasil com dinheiro de um esquema de corrupção na Prefeitura de S. André. A caravana seria um importante instrumento de popularização da pré-candidatura de Lula à Presidência naquele ano.
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Foto: Reprodução/R7.