Fake news da “grande mídia”: relembre o caso Escola Base

Fake news da “grande mídia”: relembre o caso Escola Base

Nos anos 90, com poucos canais de televisão e pouquíssimo acesso a internet, os acusados não tinham uma forma de contrapor o que era dito sobre eles.

Por Redação em 26/04/2022

As fake news envolvendo a Escola Base são uma lembrança de que a grande mídia mente.

Mas existia o monopólio (ou talvez oligopólio) das fake news.

Relembre o caso em que a reputação de pessoas foi assassinada pela TV e pelo jornal na década de 94: e na época os acusados não tinham como fazer um vídeo se defendendo e ter sua voz ouvida.

Fake news na “grande mídia”: entendendo o caso Escola Base

Em março de 1994, Lúcia Eiko Tanoue e Cléa Parente de Carvalho notaram comportamentos estranhos em seus filhos, estudantes da escola de Educação Infantil Base, no bairro da Aclimação, em São Paulo. Então, elas se dirigiram à delegacia para prestar queixa contra seis pessoas relacionadas ao colégio.

De acordo com as mães, os donos da escola, Icushiro Shimada e Maria Aparecida Shimada, a professora Paula Milhim Alvarenga e seu esposo, Maurício Monteiro Alvarenga — o motorista da Kombi que levava as crianças para a escola — faziam orgias com as crianças de quatro anos de idade no apartamento de Saulo e Mara Nunes, pais de um dos alunos.

O delegado incumbido da investigação, Edélcio Lemos, enviou os filhos de Lúcia e Cléa ao Instituto Médico Legal e conseguiu um mandado de busca e apreensão ao apartamento onde, supostamente, as crianças eram abusadas.

Quando nada foi encontrado, as mães, indignadas, foram à Rede Globo.

O delegado recebeu laudos que eram inconclusivos, mas diziam que as crianças apresentavam lesões que podiam ser de atos sexuais. Ele, então, deu declarações dúbias à imprensa.

A velha mídia deu muita atenção ao caso. Um manchete do tablóide paulista Notícias Populares dizia “Kombi era motel na escolinha do sexo”.

Com o tempo, Lemos foi afastado da investigação, e os delegados substitutos ainda encontraram, por denúncia anônima, Richard Herrod Pedicini, um fotógrafo americano que morava nas redondezas da escola e, segundo a denúncia, vendia fotos das crianças molestadas.

A filha de Cléa foi levada ao apartamento do rapaz para fazer reconhecimento e quis brincar com uma abelhinha de pelúcia que estava no chão. Foi o suficiente para que fosse decretada a prisão preventiva do fotógrafo, enquanto a mídia já anunciava seu envolvimento com o caso. “Alunos da Escola Base reconhecem a casa do americano” era o principal assunto das manchetes. 

Invariavelmente, as provas da inocência começaram a aparecer. Quando a prisão preventiva de Saulo e Mara foi decretada, os advogados do casal finalmente tiveram acesso ao laudo do IML e viram o quão inconclusivo era, com a própria mãe de um dos meninos admitindo que ele sofria de constipação intestinal, uma das probabilidades apontadas pelo laudo. A partir daí, apareceram depoimentos de outras pessoas como funcionários do colégio e pais de outros alunos em defesa dos acusados.

Em junho, três meses depois, os suspeitos foram inocentados pelo delegado Gérson de Carvalho, um dos que assumiram a investigação.

Os meios de comunicação foram acusados de não retratar a verdade de fato, declarando, apenas, que as investigações foram encerradas por falta de provas, sem necessariamente dizer que os acusados eram inocentes. Diversos processos foram movidos contra o Estado e a mídia.

Manchete sobre o caso
Reportagens para televisão sobre as investigações

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Foto: Reprodução/YouTube