O agro brasileiro sempre foi alvo de mitos, os agromitos. As cifras gigantes que envolvem o setor produtivo é confrontada todos os dias com o modo simples da vida no campo. Sabe-se que a tecnologia está ganhando espaço no agronegócio, mas se ignora uma série de outros fatores.
De acordo com o engenheiro agrônomo e doutor em administração, Xico Graziano, os mitos confundem a opinião pública e influenciam as políticas públicas do setor. Desta maneira, “representam, portanto, não somente um perigo ao pensamento inteligente, mas um risco às melhores decisões sobre o futuro da sociedade. Contra os agromitos, há somente um caminho: disseminar a boa informação sobre a agropecuária. E, claro, fazer o trabalho correto na roça”, afirma o engenheiro agrônomo.
Os agromitos mais comuns
Pensando em desvendar os agromitos que rondam o agro brasileiro, Xico Graziano listou, em artigo divulgado pelo Portal Poder 360, os 10 maiores agromitos que distorcem a visão real do negócio chamado agro brasileiro. Confira:
1. O agromito mais antigo
Pero Vaz de Caminha jamais escreveu “aqui, em se plantando, tudo dá”. O escrivão do Rei destacou a riqueza dos recursos hídricos brasileiros: “dar-se-á nela tudo, por bem das águas que tem”. Mas o jeitinho brasileiro popularizou o mito da terra fértil. Na verdade, os solos tropicais têm maior acidez, são menos estruturados e mais arenosos que os europeus ou norte-americanos.
2. O agromito mais politizado
Em 2011, em um evento político, afirmou-se que 70% da produção de alimentos do país venha da agricultura familiar. A esquerda agrária transformou a mentira em mantra. O pesquisador da Unicamp/Esalq, Rodolfo Hoffmann, chegou à conclusão que seria, no máximo, de 25%. Mas o Censo Agropecuário do IBGE (2017) apontou que a agricultura familiar responde por 23% do valor total da produção agropecuária do país.
3. O agromito mais absurdo
Gasta-se 15.000 litros de água para produzir 1 quilo de carne bovina. Que absurdo! Os animais, incluindo humanos, bebem água, sim, mas a excretam na urina. Falar em “consumo” nessa situação esconde que o precioso líquido é diariamente devolvido ao ciclo hídrico da natureza. Quem estraga a água é o chuveiro residencial e a descarga da privada.
4. O agromito mais mentiroso
Alimentos transgênicos fazem mal à saúde. Mentira deslavada. Jamais, em qualquer lugar do mundo, relatou-se problema de saúde humana causado por ingestão de comida geneticamente modificada. Utilizada na medicina, a engenharia genética gerou a maravilha da insulina transgênica, produzida por uma bactéria (E.coli), cujo genoma recebeu um “pedacinho” de gene humano. Hoje, 100% da insulina ministrada aos diabéticos é de origem transgênica. Zero problema.
5. O agromito mais surpreendente
Alimentos orgânicos sujeitam-se, sim, aos agrotóxicos químicos. Proíbem-se ingredientes sintéticos, mas pesticidas à base de cobre, potássio ou enxofre são normalmente usados no controle de pragas das lavouras orgânicas. Elaboradas com metais pesados, embora naturais, as caldas bordalesa e sulfocálcica apresentam toxicidade à saúde humana e ao meio ambiente, exigindo cuidados na aplicação de campo e manejo de colheita. Fique esperto.
6. O agromito mais confuso
A agropecuária é responsável pelo desmatamento da Amazônia. Textos sobre o assunto costumam não distinguir a floresta amazônica, um bioma, da Amazônia Legal, um território político que engloba extensas e produtivas áreas de cerrado, no Mato Grosso especialmente. De 2010 a 2016, os assentamentos de reforma agrária foram os principais responsáveis pelo desmatamento na Amazônia, com 28,9% do total. Em seguida, aparecem as propriedades rurais (24,3%), seguidas das “terras públicas não destinadas” (24%) e, depois, vem o crime dentro de Parques e Reservas (11,8%).
7. O agromito mais ilógico
Gado polui mais que automóvel. Não faz nenhum sentido. As pessoas confundem emissões de metano, advindas da ruminação bovina, com os gases tóxicos derivados da queima de combustíveis fósseis. O primeiro está associado ao efeito estufa da Terra. Já os gases liberados pelos escapamentos de motores (óxidos de nitrogênio, óxidos de enxofre e monóxido de carbono, além da fumaça preta de caminhões) causam doenças e envenenam os pulmões. Carne bovina e leite de vaca, por outro lado, matam a fome de milhões.
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8. O agromito mais pernicioso
Leite não faz mal à saúde, salvo àquelas pessoas que apresentam intolerância à lactose (um açúcar natural), ou aos alérgicos à proteína do leite de vaca (APLV), problema que afeta 2,2% das crianças no Brasil. Fora disso, leite de vaca, queijos, manteigas e iogurtes são alimentos deliciosos e nutritivos, presentes na dieta civilizatória desde tempos remotos.
9. O agromito mais duvidoso
Banana combate câimbras. Pode ser, mas depende. Câimbras podem advir da desidratação, do ácido lático ou da falta de minerais, como potássio, magnésio, cálcio ou sódio. Banana contém alto teor de potássio, cerca de 300 mg/100 gramas. É fato. Mas a pipoca contém 1.500 mg; o feijão, 1.300 mg; as nozes, 600 mg. Ou seja, embora verdadeira a fama da banana, outros alimentos também poderiam facilmente abastecer o organismo com potássio. Se vai, ou não, evitar as câimbras, é outra questão, que depende da medicina.
10. O agromito mais impressionante
Todos estamos sendo envenenados por agrotóxicos. É impressionante como a opinião pública acredita ser verdade uma falsidade criada para atacar a agricultura tecnológica. A mais completa pesquisa feita pela Anvisa, do Ministério da Saúde, indicou um total de 250 amostras (5,4% de 4.616 análises) com resíduos de pesticidas acima do LMR (Limite Máximo de Resíduo). A margem de segurança, porém, é de 100 vezes. Por essa razão, apenas 0,89% do total das amostras representavam, segundo a Anvisa, potencial de risco agudo à saúde. Quanto ao risco crônico, o resultado deu zero. Ou seja, os resíduos químicos são metabolizados, eliminados, pelo organismo humano.
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Foto: Pivot Family.