A vitória do clientelismo

A vitória do clientelismo

As eleições de 2020 mostraram que o clientelismo é a melhor forma de vencer uma eleição. Uma análise do caso específico de Valinhos/SP.

Por Luis Eduardo Marana Zogaib em 19/11/2020

Eu me surpreendo com a indignação de muitos em relação ao resultado das urnas na data de ontem, no que diz respeito aos vereadores mais votados. Não, meu amigo, o resultado em si não me surpreende. Não me surpreende que as pessoas votem no clientelismo, em “cuidadores de animais”, ou em candidatos que como vereadores nada apresentaram de útil nos últimos 4 anos.

A realidade dos fatos não mostra o mérito de bons vereadores e bons projetos, mas sim a vitória do clientelismo. Uma parte significativa dos reeleitos nada apresentou de útil nos últimos anos, mas sempre esteve atenta a “quebrar um galho ou outro para o cidadão”, de um jeito ou de outro.

Como funciona o clientelismo

Seja colocando amigos de amigos em cargos comissionados na prefeitura, ou achando uma vaga na creche, ou pedindo pra tapar um buraco na rua, ou arrumando um atendimento emergencial no sistema de saúde público, ou ainda, resgatando animais domésticos na rua. Todas essas atividades não são função de vereador! Função de vereador é criar leis e fiscalizar as ações do executivo.

E a raiz de todo esse mal tem duas origens. A ineficiência do setor público, que gera a oportunidade para que os nobres vereadores vendam essa imagem de “bons anjos” e “amigos da população”. E a “cultura do jeitinho” do brasileiro que é permissivo e aceita este tipo de atitude como algo normal, quando na verdade deveria ser algo a ser repudiado de forma enérgica.

Verdade seja dita, a grande maioria dos vereadores faz campanha desta forma durante 4 anos. E muitos colhem o fruto do clientelismo por meio da reeleição.

Mas o que mais me deixa abismado não é a surpresa de quem não enxerga a realidade nua e crua, mas sim a indiferença de uma parcela significativa de nossa população que, cansada da política, se ausentou de votar, anulou seu voto, ou ainda, votou em branco.

Este é o grande efeito colateral que retroalimenta o sistema de perpetuação no poder de pessoas que deveria ser excluídas da vida pública por atitudes, comportamentos e resultados de trabalho incoerentes com o cargo que ocupam.

Nesta eleição vi excelentes candidatos, extremamente preparados e com grande histórico de voluntariado e participação em movimentos sociais, serem deixados à deriva. Abandonados pelo cidadão omisso, que reclama aos quatro ventos dos políticos mas que não se dá ao trabalho de buscar informações sobre bons candidatos e ir às urnas e por gente que, em pleno século 21, ainda vota no amigo do amigo ou naquele que ajudou a conseguir algo que, na verdade, era apenas seu direito.

O resultado das urnas e a reeleição de muitos nos mostra apenas como o brasileiro pensa. Vota no cargo executivo buscando um salvador da pátria. E vota no cargo legislativo em busca de ter alguém com quem contar na hora do aperto, ou ainda, para obter algum tipo de vantagem indevida. Este, infelizmente, é o retrato de nossa sociedade.

O primeiro debate da história de Valinhos ao vivo e com transmissão online

Como cidadão e eleitor, tenho a certeza de que fiz meu papel e dei minha pequena contribuição para ajudar a construir uma democracia melhor e mais saudável, levando informações ao eleitor. E, neste sentido, fico feliz em ter sido um dos organizadores do debate entre candidatos a prefeito, junto a uma equipe fantástica, e poder ter contribuído para termos o primeiro debate da história de Valinhos ao vivo e com transmissão online por um conjunto de veículos de comunicação. Aliás, uma ação que sofreu boicote de ao menos dois grupos políticos da cidade e que parecia quase impossível de ser concretizada.

Independentemente de meu candidato a prefeito não ter sido eleito, torço muito pelo sucesso da Lucimara e do Rocco na prefeitura. E peço somente que pensem nos menos favorecidos e em eliminar os espaços para os oportunistas de plantão.

*Luis Eduardo Marana Zogaib é consultor empresarial e administrador de empresas, apaixonado por empreendedorismo, inovação e gestão.


Foto: Ben Richardson.