Diante desta crise sem precedente na economia, onde ninguém sabe exatamente quando chegaremos ao fundo do poço, analisei quais negócios possuem características semelhante a ter que ficar forçosamente parado por um período indefinido, aguardando a liberação para voltar ao trabalho.
Procurei estudar os negócios sazonais como parques de diversão, lojas de temporada ou mesmo estações de esqui, ficou claro que a atividade econômica que mais se aproxima desta situação de pandemia são os barcos de pesca, principalmente aqueles que trabalham em áreas com fortes tormentas.
Eu vejo uma semelhança muito grande entre esta crise e os barcos de pesca que passam grandes jornadas em alto mar. Frequentemente, quando o mar está muito revolto, durante um período de furacão ou tufão, os barcos não podem sair dos portos e precisam aguardar a tempestade passar. Não podem pescar, não podem faturar e não há nada que se possa fazer contra a natureza, sair na tempestade é morte certa, é inclusive proibido por muitas autoridades.
O tempo em que o barco de pesca fica parado no porto, não significa que a tripulação fica parada, é nesta hora que se aproveita para colocar todo o barco em ordem, fazer todas as manutenções corretivas e preventivas, limpar o casco, verificar os equipamentos, pintar o barco, atualizar os equipamentos, consertar as redes, em suma, se preparar para voltar ao alto mar.
O trabalho é feito pela própria tripulação, que acabam conhecendo ainda mais e melhor o seu local de trabalho. O barco tem que ficar tinindo, perfeito, para enfrentar a nova temporada de pesca. O comandante e a tripulação sabem que a tormenta vai passar e a pesca vai retomar. Barco parado não é motivo para desânimo, faz parte do negócio.
Outro aspecto são as reservas, donos de barcos entendem o conceito do capital de giro, sabem que caixa não é lucro, por isto mesmo são conservadores, valorizam a liquidez e protegem o caixa. A vantagem deles em relação a nós é que eles sabem que de tempos em tempos serão proibidos de pescar. Está muito nítido na cabeça do dono do barco que, sem caixa, você não volta ao mar.
Com as nossas empresas não é diferente, por mais duro que seja esta parada obrigatória e inesperada que a quarentena nos impôs, um empreendedor não desanima, ele tem por obrigação ir ao seu “barco” e prepara-lo para a nova temporada. Continue a acordar cedo, arrume o estoque, jogue fora o que não presta, tire o mato, limpe os fundos, conserte o piso, a janela, a tranca, troque a lâmpada, limpe o fogão, limpe os vidros, pinte a fachada, negocie o aluguel, negocie prazo com fornecedores, corte os custos, dê férias aos funcionários e volte ao balcão. Negocie de forma transparente, honesta e sincera, credibilidade é um ativo muito importante, ele dá crédito.
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Na indústria, desça para o chão de fábrica, faça reuniões, explique a situação, faça a manutenção nos equipamentos, arrume a fábrica, jogue as coisas velhas e ruins para fora, dê férias coletivas, negocie prazos, corte o mato, em suma, “arrume a casa”!
Em ambos os casos, proteja o caixa!
A pandemia vai passar e a demanda reprimida vai ser desrepresada rapidamente. Quem não estiver preparado vai perder as oportunidades e vai deixar a onda passar.
O grande problema que iremos ter para retomar os nossos negócios após esta pandemia vai ser a falta de capital de giro, que será consumido para manter o negócio hibernando, e a burocracia que sempre atrapalhou mesmo em tempo bom. Aqueles que não protegerem o seu caixa, vão afundar.
Eu também tenho uma empresa e escrevo tudo isto com propriedade. Vejo que os negócios estão se represando de forma muito perigosa. Por isto mesmo, repito: “Preparem os seus barcos!”, seja para aproveitarem uma onda de desrepresamento de demanda, seja para os adaptarem ao novo tamanho do mercado.
A tempestade vai passar.
*Alexis Fonteyne é deputado federal por São Paulo pelo Partido Novo e membro titular da Comissão Especial da PEC 045/2019, da Reforma Tributária.
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