A colônia amazônica de Joe Biden

A colônia amazônica de Joe Biden

Joe Biden, para tentar se promover durante o debate pela corrida presidencial contra Donald Trump, mostrou uma recaída neocolonialista que não combina com o ícone dos EUA: a estátua da Liberdade.

Por Olimpio Alvares em 03/10/2020

A Amazônia definitivamente virou grife na politicagem internacional. Queiram os brasileiros ou não, teremos que conviver pacientemente com críticas de toda sorte. Muitas delas são absolutamente plausíveis e necessárias, mas outras tantas, que se alastram como praga pelo globo, são as mais insanas bravatas, que ocorrem, em parte, graças ao desserviço destrutivo internacional prestado ao País por militantes ideológicos e políticos brasileiros. 

A importância mundial dessa majestosa e cobiçada região abarcada pela maior floresta tropical úmida do mundo –  que cobre 65% do território brasileiro – é fundada e ímpar; tem até destaque especial na plataforma do Partido Democrata de Joe Biden no capítulo da proteção do clima, conforme revelado no debate das eleições presidenciais americanas em 29 de setembro último.

O que disse Joe Biden

Biden disse que organizaria o hemisfério e o mundo para prover US$ 20 bilhões para o Brasil não queimar mais a Amazônia. “… aqui estão US$ 20 bilhões, pare de destruir a floresta … e se não parar, vai enfrentar consequências econômicas significativas”, afirmou o ex-vice-presidente Biden do alto de sua candidatura à presidência do país mais poderoso do mundo.

É louvável a preocupação do partido do progressismo americano com o que resta das florestas nativas brasileiras; mas, tem algo muito ruim implícito nesse discurso. Não é desse jeito anti-diplomático que um vizinho continental, aliado histórico, deve falar com um país soberano que – pelo menos até agora – manteve cerca de 84% de sua floresta tropical original em pé, para o benefício de todas as nações e povos do planeta.  

Paradoxalmente, a ameaça descabida e covarde – como sempre acontece –  vem de um candidato a mandatário de um país extremamente rico e civilizado, que dizimou suas florestas primárias, em prejuízo da biodiversidade e do equilíbrio ecológico e climático, transformando-as em campos de extração de petróleo e mineração, fazendas produtivas, desenvolvimento econômico e humano, e riqueza abundante para seu povo.

Imperialismo

Esse tipo de ameaça imperial fora de época de superpotências, não é uma grande novidade. A França tem se notabilizado nessa prática arrogante. O então presidente socialista François Mitterrand afirmou em 1989 – em pleno auge do movimento democrático internacional – que o Brasil deveria delegar seus direitos sobre a Amazônia a organismos internacionais. Em maio de 2005, o candidato francês à presidência da Organização Mundial do Comércio – OMC, Pascal Lamy, afirmou sem nenhum constrangimento, que a solução para proteção da Amazônia seria a patrimonialização global de seus recursos. 

Há uma lista de arroubos imperialistas como esses, e por isso, o alerta laranja deve ser mantido permanentemente aceso. Lembre-se, que essa absurda usurpação somente poderia ocorrer se o inciso primeiro do artigo primeiro da Constituição Federal Brasileira fosse rasgado junto com a Carta Magna ….. ou, de algum “modo criativo”, relativizado pelo Supremo Tribunal Federal brasileiro que, dados seus recentes estranhos feitos, poderia colocar em risco a soberania do País na Querela Amazônica.

Quanto vale a Amazônia preservada?

Mas, afinal, o que são US$ 20 bilhões comparados ao total dos valores poupados no passado, presente e futuro por 192 países em consequência de um clima mais equilibrado de um planeta menos aquecido? Por ser uma das mais relevantes peças do quebra-cabeças climático global (senão a principal), a Amazônia em pé, preservada, tem um valor – ainda não estimado – que, eventualmente, poderá superar em muitas vezes qualquer cifra ordinária do produto interno bruto somado dos países ricos. 

Quem irá calcular – e quando – o que deixam de perder os 192 países do mundo pelo efeito climático da Amazônia preservada? Esse cálculo será uma referência sólida para o dimensionamento das futuras transações dessa cooperativa financeira internacional pretendida por Joe Biden, (obviamente) comandada, com temperança, pelo Estado Nacional Brasileiro – ouvidos todos os países.

O Brasil deveria ter todo interesse em manter essa “mina de ouro” em pé. A floresta preservada também implica outras receitas domésticas extremamente altas, oriundas da exploração racional e amigável pelos povos amazônicos da rica biodiversidade, das riquezas minerais, do potencial turístico, entre outros serviços.

A Amazônia não quer, e não precisa, da esmola do sonolento Joe Biden e dos outros presidentes sem-floresta, liderados por Emmanuel Macron e Angela Merkel; precisa, isto sim, de parceiros beneficiários contribuintes, justos e respeitosos – jamais de outros donos. 

Um país que hoje preza verdadeiramente sua soberania, o Brasil só tem a lamentar que essa moda climática globalista entre chefes de estado – estranhamente apoiada pelo silêncio e cumplicidade da militância ambientalista e da mídia nacional e internacional – seja inspirada na velha e ultrapassada beligerância colonialista.

*Olimpio Alvares é engenheiro mecânico pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo em 1981, Diretor da L’Avis Eco-Service.


Foto: Ferdinand Stöhr.